No encontro do dia 11 de novembro de 2021 tivemos nossa saída a campo com o intuito de responder nossa pergunta de pesquisa: “quais são os efeitos socioambientais positivos e negativos da intervenção do ser humano na natureza em uma comunidade do bairro Itoupavazinha?”. Para isso, fomos até a casa da clubista Julia na Rua Amsterdam, próximo à escola, para investigar dois pontos de desmatamento. Chegando lá, planejamos como iríamos aproveitar o tempo desta saída a campo, organizando os grupos para as entrevistas com os moradores e testando os aplicativos antes das observações em campo.
Nos deslocamos até o primeiro ponto de observação, era um terreno que está à venda e que foi desmatado. Também encontramos muito lixo jogado nesse ambiente. Conseguimos subir nesse terreno para explorar a área. Utilizamos vários aplicativos no celular e tablet, por exemplo, o ExploraHabitat (aplicativo desenvolvido na FURB), outros de identificação de plantas, fungos e insetos. Alguns clubistas não conseguiram baixar os aplicativos e tiraram fotos com o celular para mandar no nosso grupo do WhatsApp. Um dos clubistas gravou o som da natureza, pois foi possível escutar o canto de várias aves.
Foi feito uma coleta de lixo na área, vários objetos foram encontrados incluindo: embalagens de alimentos, garrafas, latinhas, bem como alguns eletrodomésticos como máquinas de lavar roupa, ventilador e um fogão, entre outros, até mesmo nessa coleta foi observado um parachoque de carro. Retiramos dois sacos grandes de lixo.
Também observamos insetos, plantas e fungos no local, achamos três espécies de fungos diferentes, duas espécies de borboletas, dois tipos de formigas e outros insetos não identificados. Havia uma grande variedade de plantas, entre elas, flores como o picão-da-praia, urtigas, palmeiras, olho de boi e até mesmo milho foi encontrado plantado no local. Ainda, observamos a presença de bananeiras plantadas na encosta do barranco. Discutimos o quanto elas absorvem água e causam os deslizamentos. Nos foi questionado sobre a coloração avermelhada do solo e o grupo pesquisou na internet descobrindo que é devido à presença de ferro.
Voltamos para a casa da clubista Julia e comemos uma deliciosa nega maluca com sucos e café feitos com carinho pela mãe da Julia. Discutimos sobre o que tínhamos observado e iniciamos esse relato coletivo.
Após o café, elaboramos as perguntas que iriam ser feitas para os moradores:
Quanto tempo você mora aqui?
O que você percebeu de mudanças no bairro?
Quais são os pontos negativos do desmatamento?
Quais benefícios o desmatamento traz para a comunidade?
Você percebe que em modo geral as pessoas poluem ou preservam a natureza ao redor de sua casa?
O que você faria para melhorar a natureza?
Depois disso, fomos para o nosso segundo ponto de observação, era uma área desmatada para a construção de um parque. Observamos esgoto a céu aberto e encontramos a presença PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), como a Begônia. Os clubistas experimentaram e sentiram um gostinho azedinho. Encontramos também uma área de descarregamento de lixo e vestígios de queimada de materiais. Observamos uma placa em que os moradores estavam indignados com a falta de educação das pessoas com o meio ambiente, que dizia “Educação faz bem para a saúde. Lixo no lixo”.
Em seguida, formamos três grupos e caminhamos pelas ruas da comunidade para entrevistar os moradores com as perguntas citadas acima. Para a primeira pergunta, encontramos moradores antigos e outros mais novos. Os moradores mais antigos observaram a construção de mais casas, por exemplo, antes a rua era de barro e depois de muito tempo foi asfaltada. Segundo eles, por mais que algumas pessoas tem um quintal bem verde, ainda jogam lixo no chão. Os moradores mais novos não perceberam muitas mudanças.
Como pontos negativos, os moradores comentaram que o lixo jogado na natureza polui o ar, causam alagamentos e que o desmatamento acelera o aquecimento global. Como pontos positivos, os moradores citaram a segurança, já que no primeiro ponto de observação, muitos assaltantes se escondiam ali. No segundo ponto de observação, um dos moradores que trabalham na obra do parque comentou que foi a própria comunidade que pediu para fazer o parque naquele local, pois as crianças não tinham onde brincar e que havia uma área de esgoto a céu aberto e de descarregamento de lixo. Ainda observamos essas situações nesse ponto, mas elas estão sendo resolvidas pela prefeitura, segundo o trabalhador. Questionamos o morador sobre a necessidade de ter desmatado para construir, mas ele comentou que eles estão preocupados com isso e nos mostrou várias mudas de plantas nativas que está fazendo para plantar no parque.
Na quarta pergunta, alguns moradores relataram que os moradores poluem o meio ambiente. No entanto, outros moradores comentaram que a maioria preserva. Para a última pergunta, a maioria dos moradores afirma que já fazem reciclagem e que plantam árvores em seus quintais.
Nos reunimos na rua e discutimos sobre as respostas dos moradores. Vimos, também, mais uma placa mostrando a indignação da comunidade para não jogar lixo no chão. Em seguida, observamos um local em que a intervenção humana afetou bastante um riacho. Percebemos a água muito poluída com uma cor bem escura e com bastante lixo. Notamos muitas casas bem próximas desse local e debatemos sobre a possibilidades de enxurradas e dos danos que podem causar às pessoas que moram ali.
Voltamos para a casa da Julia e entrevistamos um último morador, o pai da própria clubista. O que mais nos chamou a atenção é que ele foi relatando suas ações no meio ambiente ao redor de sua casa, cuidando de animais como o gambá e plantando árvores nativas, o que mostra uma cultura ambiental. O pai da clubista aproveitou o terreno, preservando uma nascente e construiu uma passagem para esta água. Após isso, voltamos para a escola e finalizamos o nosso encontro.
Relato escrito pelo coletivo do Clube de Ciências Girassol